Terreiro de Umbanda Vovó Catarina

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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Ciganos na Umbanda




Antes de tudo gostaria de esclarecer que não temos a pretensão de “ser a voz da Umbanda. Mas tão somente passar a opinião de nossa casa a respeito do assunto.

A Umbanda, uma religião afro-brasileira, ou seja, de elementos africanos e brasileiros em seu bojo, e neste contexto, já inclusos a filosofia cristã que permeia a construção de nossa sociedade; herança de nossos colonizadores portugueses. Sem esquecer-se do legado indígena dos nativos de nossa terra. Mais a frente com a chegada dos Negros Africanos, foi-se mesclando um caldeirão cultural formado por conhecimentos afro-ameríndios-europeu. E foi justamente na interação entre negros e índios refugiados nos quilombos, para escapar da escravidão européia, passou a nascer uma mistura de raças, conhecimentos e culturas.
E mais tarde, já religiosamente falando, são justamente dessas três culturas básicas: européia, ameríndia e africana que foi surgindo muitos dos cultos espiritualistas, como por exemplo, os de raízes africanas. A manifestação adaptada de negros á suas crenças numa terra nova e estranha, sem saber onde ir para colher os elementos naturais necessários para estabelecer seus laços ritualísticos, onde foi imprescindível a ajuda dos nativos para passar-lhes conhecimentos sobre plantas, frutos, sementes, para que pudesse estabelecer uma substituição de seus elementos naturais, tão fundamentais para o culto do sagrado africano, acabou nascendo um tronco afro-ameríndio de espiritualidade.
Então podemos entender que o pilar das religiões que hoje entendemos como afro-brasileira, tem três culturas raízes de onde advêm rituais, filosofias, crenças, mitos, ritos, magística e feitiços. E a Umbanda, a Kimbanda, a Jurema, não foge muito disso.
Porém com o passar do tempo, começamos a perceber novas inclusões digamos assim, com disseminação de linhas de trabalho diferentes do que entendemos como: núcleo base. Sendo assim, podemos observar com maior freqüência, terreiros que atuam com linha do Oriente, médicos, Baianos, Marinheiros, Cangaceiros, entre outros.
Mas e os Ciganos na Umbanda? Como surgiram?

Existiu desde que Exu (entidades) passou a fazer parte da estrutura “base”. Porém Ciganos inseridos dentro da Linha de Exu nas falanges de PomboGira Ciganas e Exus Ciganos. Estes sempre existiram dentro dessa linha. Perfeitamente enquadrados dentro dos fundamentos peculiares e vibracionais da linha de Exu, levando em conta claro, as particularidades de cada falange e/ou linha de trabalho, como é com os Exus de encruzilhadas, calunga, etc. Os Ciganos nos terreiros de Umbanda vêm ou pelo menos vinham, nas giras de Exu e nunca houve problema com relação a isso. As pombogiras Ciganas com seus coloridos, saias rodadas e suas cigarrilhas trazendo seus sortilégios e magias.
Mas quando uma linha chamada “Oriente” passou a ser difundida e começou a se espalhar pelos terreiros, mais comumente nas regiões de sul e sudeste, os Ciganos foram migrando para a linha do Oriente. Ao ponto de muitos terreiros entenderem que Ciganos é equivalente a Linha do Oriente e vice versa. Então dependendo de como a casa atua no que tange suas linhas de trabalho, os Ciganos baixam em giras de Exu ou em giras de Oriente, conforme orientação de cada casa.
Particularmente não entendemos Ciganos como Oriente, pois os mais velhos da religião nos contam que antigamente quando um ou outro terreiro trabalhava com linha do Oriente, estes eram espíritos de diversas “identidades” que atuavam com a terapia vibracional para a cura e energização. Ou seja, eram espíritos que atuavam com a canalização energética para fluidificação de água para posteriormente serem usadas como remédios, passes aos doentes. Era basicamente um trabalho energético e os espíritos que baixava pouco falava, pois o objetivo não era a consulta e sim o trabalho para a cura através da atuação fluídica. Mas de uns tempos pra cá, Cigano virou sinônimo de “Linha do Oriente”.
Não querendo apontar o dedo para esta ou outra casa, mas não entendemos dessa forma. E o que testemunhamos atualmente em muitos terreiros é um misto de espiritualidade e fantasia, diga-se de passagem, não somente com os Espíritos Ciganos, mas com Exus e Pombogiras também. O imaginário popular cresce diante de arquétipos que são um convite a exteriorização de fantasias e desejos interiores de cada um, e muitos inconscientemente manifestam suas paixões no “glamour” que muitos criam envolta de alguns vultos de linhas de trabalho.
Motivo este que acredito piamente ser a causa da grande proliferação de linhas e mais linhas de Umbanda; de portugueses, esquimós, cangaceiros, mineiros, mendigos e por aí vai se aumentando as linhas do carretel da Umbanda. O que era simples e eficaz, agora é complexo e cada vez mais confuso, sendo uma porteira aberta a animismos, fascinações, engodos e shows de exibicionismos e alter egos.
Por outro lado, alguns afirmam inclusive os próprios espíritos Ciganos de que a linha de Exus e Pombogiras não são adequadas as suas atuações e há conflitos vibracionais. Pode ser por aí que muitas casas optaram por terem Giras de Ciganos apartados das giras de Exus. Justa colocação. Mas paremos para pensar: se cada espírito por suas razões sejam vibracionais ou de incompatibilidade de atuação dentro da Umbanda ou outra linha, pede pra abrir outra somente para eles, onde iremos parar? A Umbanda deve se adequar aos seus trabalhadores espirituais ou o mais coerente seria o contrário? Já pensou se todo espírito que foi um japonês, viesse e pedisse pra abrir uma linha somente para os espíritos japoneses, um que foi advogado e trabalhou com justiça, teríamos que abrir a linha dos advogados? Não tem o menor sentido.
Dentro de nossa compreensão, ou os Espíritos que querem militar dentro da egrégora Umbandista espiritual se adéquam a ela e suas linhas já existentes, ou trabalham fora dela, já que ela não oferece campo favorável a este ou aquele espírito de atuar. Mas ficar moldando todo momento, criando linhas e falanges, o que implica em várias outras questões, inclusive rituais e ritos específicos para sintonia de tal linha e isso é mexer em fundamentos, o que é de extrema complexidade e não: “simples, basta abrir uma linha pra tal espírito” e pronto.
Por tais questões é que nossa Tenda Cigana não está inclusa dentro da Umbanda e fazemos um trabalho completamente apartado da hierarquia, comandos e fundamentos peculiares da Umbanda e um terreiro dessa religião.
Não cabe nem é a função deste texto, criticar quem faça diferente, mas como dito acima, a intenção é tão somente passar nossa visão sobre os Ciganos dentro do contexto religioso Umbandista.
Acreditamos que dessa forma, os Ciganos irão atuar com toda a liberdade e dentro de uma estrutura que lhes são afins, estruturadas por eles mesmos, incluindo desenvolvimento mediúnico com os médiuns, cerimônias e rituais específicos que ficariam conflitantes dentro da Umbanda. Até porque os Ciganos oferecem todo um sistema de liturgia e rituais próprios e não somente “vem pra trabalhar: dar consultas e dançar”. Então dessa forma estes espíritos têm total espaço para atuar junto ao seu médium de forma ampla e mais adequada com a energia que estes espíritos trazem.


 Texto extraído do Blog Estrela de Lotus, casa co irmã de nosso Terreiro Umbandista! 

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