Terreiro de Umbanda Vovó Catarina

Terreiro de Umbanda Vovó Catarina
Terreiro de Umbanda Vovó Catarina

sexta-feira, 2 de março de 2012

Caminhos diferentes


Um Conto De Fernanda Mesquita


-Não consigo caminhar mais...minhas pernas estão dormentes-Gemia Nega Maria enquanto Véio Felício tentava sem sucesso puxar pelos braços a escrava fugida.
-Estamos perto do Quilombo...falta pouco-Dizia Nêgo Felício que,tentava animar aquela senhora de traços cansados e visivelmente abatida.
Ainda faltavam algumas horas até chegar ao Quilombo,o caminho era de difícil acesso,com atalhos falsos para confundir os empregados das fazendas que eram encarregados de caçar os escravos fujões no meio das matas.
Com um certo esforço...a velha se levantou,e com a ajuda de Felício se puseram a caminhar novamente,mas,sabiam que não podiam ir devagar demais porque o capataz da fazenda poderia estar no encalço dos 7 negros que conseguiram fugir da fazenda Sesmaria naquela madrugada..O que eles não se deram conta é que, devido a parada da Nega Véia os dois ficaram pra trás,e,com isso poderiam errar o caminho para se chegar ao Quilombo...
No fim do dia,cansados,pararam na beira de um riacho para se refrescarem e encontraram um jovem escravo que estava muito assustado e,muito machucado...talvez por chibatadas,pois das marcas das costas dele saía um odor fétido e pruridos amarelados um sinal claro de infecção,e,com todo aquele sol batendo nas costas do negro,só fizeram piorar a situação dele...
-Fujam!-Dizia o jovem.
-Eles estão chegando e não demoram!
-Eles quem meu fio?Perguntava Felício já assustado com a resposta que ele já sabia.
-Tem um capataz à cavalo com alguns empregados da fazenda Sesmaria,procurando por escravos que fugiram da fazenda esta madrugada...e agora eu, que já estava no caminho do Quilombo, tive que recuar e esperar que eles voltem para não acharem o caminho de lá!
-É meu Nego..dizia Maria..eu não agüentarei correr,acho melhor ficar e esperar que me peguem,vão vocês e me deixem aqui.
-Não!-Disse Felício  em tom firme.Não te abandonarei aqui pra que esses imundos a peguem e a açoitem!Porque você sabe que não irão matá-la de pronto! Farão você sofrer no tronco, até que agonize..como fizeram com minha irmã querida..a deixarão no tronco debaixo do sol escaldante sem água,com as chagas abertas e agonizante até o fim derradeiro.Não desejo que aconteça o mesmo com você!
O jovem vendo a tristeza estampada no rosto de ambos, teve uma idéia.
-Vamos até as pedras do outro lado do riacho, lá tem uma gruta, é pequena mais cabem vocês dois! Fiquem quietos lá até a noite chegar, vou mostrar pra vocês o caminho certo pro Quilombo, distrairei o capataz pro outro lado da mata, sou jovem,astuto corro bem,mas não saiam até a lua estar alta,ok?Sigam o caminho e andem o mais rápido que puderem, depois eu vou atrás de vocês..chegarei em seguida.
E  assim fizeram os  velhos escravos,cansados,com fome...não tinham outra alternativa senão concordar com o jovem que parecia tão certo de si.Se despediram e o jovem disse ao Nego Felício:
-Se por acaso eu não chegar, procure por Pai Antero e diga que Eu Antônio,consegui o meu intento que era,só retornar ao Quilombo depois de  dar cabo a vida do Escravo delator,que tirou a vida de sua filha mais nova.Que se Eu morrer ou for pego,não me importo mais,cumpri o que prometi a ele e a mim!
Véia Maria, chorando muito o abraçou e disse: Que Nosso Pai Maior te acompanhe meu fio!
Passado alguns minutos, os velhos ouviram o capataz gritando:
-Olhem!Lá vai o escravo fujão! Peguem ele!
O Jovem Antônio corria velozmente, muito astuto, conseguiu correr bem, mas, o seu erro foi achar a linha férrea e tentar seguir por ela pra não se perder..Do outro lado da linha vinha o  capataz de outra fazenda juntamente com seu Senhor,e,avistando o negro,correram à pé atrás dele,pois viram que o negro havia entrado em uma cabana de grãos para tentar se esconder.
Antônio se escondeu dentro de um saco de grão não muito cheio que ficava atrás dos sacos maiores da frente e ficou imóvel olhando entre os furos do saco o capataz retirar um facão e sair furando saco por saco à procura do escravo fujão.
Subitamente, o capataz parou em frente ao saco que estava na frente do negro , este, já sabendo de seu fim derradeiro fechou os olhos e esperou...
Com um só golpe, o capataz enfiou o facão no saco de grãos , acertando em cheio o peito do Jovem negro ,que nem teve tempo de se defender..seu sangue se misturava aos grãos de milho e assim terminava a saga do Jovem escravo  Antônio que,morrera sabendo que sua missão havia sido cumprida.
Quanto a Maria e Felício, bem, esses, chegaram ao Quilombo ao amanhecer  e foram recebidos por Pai Antero que sentira uma tristeza profunda depois que Felício dera o recado...ele sentia que Antonio  companheiro  de sua falecida filha querida ,não voltaria mais...Antero o tinha como um filho querido.
Pai Antero pegou o pequeno neto no colo, o beijou na fronte e sussurrou:
-Seu Pai e sua Mãe agora estão juntos e olham por nós agora. Cuidarei de você até o fim de meus dias..
Fernanda Mesquita

Nenhum comentário:

Postar um comentário