Terreiro de Umbanda Vovó Catarina

Terreiro de Umbanda Vovó Catarina
Terreiro de Umbanda Vovó Catarina

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013


Cambonos – Forças Essenciais do Terreiro 


Percebo que por muitas vezes essa função tão importante não é valorizada pelas pessoas. Já presenciei a seguinte frase dita sobre um Cambono por uma MDS; “ fulano só está aqui para acender charutos e servir café”. Pura ignorância, me desculpe!

O que são os cambonos? Não vamos confundir com as Ekedis de Candomblé pois são coisas diferentes. São adeptos, homens ou mulheres da corrente de um terreiro, que ocupam o papel de auxiliar. Ou seja, são as pessoas que, preferencialmente não são médiuns rodantes, ou ainda não possuem suas faculdades de incorporação afloradas, que prestam apoio as entidades e Zeladores durante as sessões e atividades de uma casa. Os cambonos ajudam a organizar os atendimentos, passes e consultas, são os que podem anotar receitas e trabalhos prescritos pelas entidades aos consulentes. Orientam e tiram dúvidas dos visitantes, caso precisem acerca de alguma prescrição passada. São os que  assessoram a chegada das entidade e partida para que tudo ocorra sem incidentes e estejam junto do médium na chegada de seus guias para viabilizar com eficiência sobre o que eles precisem para se firmar; velas, água, pembas, ervas, fumos, e tudo que a entidade irá precisar para o seu trabalho.

O preparo energético do cambono também deve ser feito, assim como os médiuns rodantes, pois os auxiliares de terreiro, não estão alheios a dinâmica energética que é promovida numa gira. Ele também está ali para doar energias aos seus irmãos, ao terreiro. Energética os cambonos, como não desgastam energias incorporando fazem parte de um grande suporte energético para o trabalho das entidades e ajuda na reposição dos médiuns incorporantes. 

É papel também dos cambomos/ auxiliares, ajudar nos trabalhos mais complexos como sacudimentos, limpezas, etc. Inclusive, pode ser preparado para operá-los com a ajuda do Zelador. Seu aprendizado deve ser igual a todos os outros médiuns, podendo ele a ocupar tarefas em obrigações e limpezas como auxiliar do Zelador. Mas para isso, tanto energeticamente como dotado de conhecimentos sobre o que se está fazendo, deve-se ter.

Muitas coisas de fundamental importância um cambono pode estar se qualificando para estar operando no terreiro em funções internas e durante as giras abertas. É suas funções são de muita responsabilidade e seriedade, por isso deve ser bem preparado para tal.

Uma coisa não muito comum nos Terreiros é o fato dos cambonos não serem desenvolvidos a dar passes por exemplo, ou um auto-passe numa necessidade fora das instancias do seu terreiro. Mas não lhes faltam a capacidade para isso. Em nossa casa, os cambonos também aprendem a canalizar suas energias para terceiros e para si mesmos. Como não tem uma interação mais profunda com suas entidades, ele precisa aprender sobre recursos que o ajudaram a cuidar de seu espírito também e poder ajudar outras pessoas que cruzem seu caminho. Já que criamos filhos para serem independentes e aprenderem sobre auto-conhecimento espiritual e energético, e assim serem capacitados também em ajudar outras pessoas num momento de necessidade. Existem muitos cambonos que por não serem médiuns de incorporação, apenas ocupam funções práticas, mas não “mediúnica”. Mas estas, também podem ser desenvolvidas. Já vimos muitos cambonos, com incríveis capacidades intuitivas e magnéticas de cura, que são colocados de lado, sem aproveitar tais recursos, pois apenas a faculdade de incorporação é valorizada. Achamos isso um equívoco.

O aprendizado de um cambono é longo e requer dedicação e boa vontade, assim como os médiuns incorporantes.   Então vamos valorizar mais a importância desses trabalhadores de nossas casas, que sustentam também nossa gira, doando energias preciosas para que tudo ocorra bem.
Entretanto, salientamos que o ato de cambonar pode também ser feito por qualquer médium que não esteja atuando com sua entidade no caso de necessidade numa gira. É aconselhável eu o médium que é rodante, se precisar, cambone após já ter atuado com sua entidade, para que não seja dispersa a concentração e foco exigidos que precede as incorporações Mas para ter tal responsabilidade como um conjunto de atividades e compromissos é melhor que seja um médium que não incorpore ainda.

Texto pertence ao acervo do Terreiro de Umbanda Vovó Catarina. 

O ritual do amaci na Umbanda 

A Umbanda tem seus rituais e cerimônias próprias e conhecer essa ritualística faz com que não  confundamos com rituais de outras religiões, como o candomblé por exemplo, religião que causa mais confusos e misturas com nossas práticas. Até porque muitos zeladores de Umbanda têm suas iniciações no Candomblé e acaba importando rituais muito distintos dessa crença para a Umbanda. Não entremos no mérito de certo ou errado tal mistura, mas entender que existe essas incorporações é importante para entendermos nossa própria crença. Neste texto vamos falar sobre o amaci.

Este é um ritual bem típico da Umbanda que tem o objetivo de fortalecer o médium através da lavagem de sua coroa (cabeça) com sumo de ervas. Essas ervas geralmente são consagradas a Oxalá e específicas para fins de aplicação na cabeça. Porém aos médiuns consagrados a um orixá, pode incluir ervas de seu Orixá. Mas isso varia de casa pra casa. O ritual consiste de evocações, cânticos, podendo incluir oferendas ou não e um período de descanso antes da liberação do médium.

O amaci propriamente dito diz respeito ao preparado de sumo de ervas, mas geralmente a palavra é associada ao ritual em si na Umbanda. Porém em outros segmentos religiosos, pode-se empregar a palavra para referir-se apenas ao sumo das ervas.  Não existe “receita” nem passo a passo do ritual, que isso irá, novamente, depender de terreiro para terreiro e suas raízes e escolas umbandistas. Existem tradições que usam além do sumo de ervas, bebidas votivas aos orixás, como guaraná, sidras, cervejas. Porém nem todos concordam com essas aplicações. E percebe-se que boa parte das casas adota apenas o sumo de folhas sem a presença de bebidas, principalmente as de teor alcoólico.
O amaci pode também estar incluso em obrigações, como parte dos rituais pertinentes de uma coroação por exemplo.

Um alerta sobre ervas: as pessoas autodidatas costumam ler e pesquisar em livros e na net sobre ervas e não é muito raro buscar ervas votivas a orixás e fazer banhos para os mais diversos fins. Isso não é aconselhável. Primeiro que existem ervas expostas nessas relações de internet que não são para banhos, além de ter ervas que não são para serem usadas na cabeça. Não é porque uma erva pertence a Oxalá, a Yemanjá que pode ser ministrada na cabeça para banhos. Fazer amaci para aplicar na coroa alheia, ou em si mesmo, é algo de profundo fundamento que somente pode ser feito por um zelador de Terreiro.

Ana Araújo 


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013


As entidades de Umbanda e suas identidades


Passei alguns anos sendo moderadora de comunidade sobre mediunidade e umbanda, e um assunto que sempre surgia era sobre a identidade de entidade A ou B. Pessoas perguntando sobre uma determinada entidade, querendo saber suas cores, roupas, bebidas, formas de trabalho, personalidade e principalmente sua história de vida.
Creio que esse fato se dê pela ocorrência grande que há de livros e “lendas” espalhadas em nosso meio sobre estórias de algumas entidades. Assim como há dos Orixás e divindades africanas. Mas esclarecer alguns pontos, acho de extrema importância. E um deles é a diferença entre mitos dos Orixás e lendas e estórias que ouvidos sobre entidades.
Os mitos que circulam em nosso meio – maioria sobre o panteão yoburá – são ocorrências a serem estudadas no que entendemos como mitologia. São narrações que remetem a construção cultural e social de um povo, assim como suas crenças, cosmogonia, modo de vida e uma relação entre o homem e o divino. Sendo assim o mito é uma forma  ágrafa de repassar para gerações futuras a essência sócio-cultural e espiritual de um determinado grupo étnico. Através dos mitos, adurás (rezas) e orikis (invocações e encantamentos) é que hoje se torna possível organizar um culto religioso as divindades africanistas; base de todo o Candomblé dentro de cada raiz ancestral e no caso, étnica ao que ele se refere, seja ela banta, nagô ou fon. Sei que muitos mitos que circulam hoje foram “criados” contemporaneamente e não correspondem a uma origem legítima da cultura africana. Mas as casas matrizes do culto as divindades, as quais descendem todos os núcleos de candomblé, possuem em seu acervo as itans (mitos) transcritas e estas possuem códigos numéricos que garantem a sua legitimidade.
Já as estórias contadas em livros, revistas e no boca a boca sobre as entidades, tem teor completamente diferente e muitas delas não passam de lendas, invenções, fantasias e divagações. Algumas podemos dizer que tem um caráter real. Porém estas, são histórias de passagens encarnatórias de um espírito que “baixa” sob o nome de Tranca Rua, contou sobre sua individualidade espiritual. Ela não serve para outros Trancas Rua, porque na verdade; Tranca rua diz respeito a um agrupamento imenso de espíritos que se apresentam nos terreiros afro-ameríndios espalhados pelo Brasil, sob mesmo nome. Então podemos entender que Pai Joaquim, Caboclo Tupinambá, Caboclo Treme Terra, Cigana Esmeralda, Maria Mulambo, e todos os nomes representam uma COLETIVIDADE e não uma individualidade. Logo, se um Pai Joaquim chega num terreiro e quer relatar sua história de vida, isso diz respeito exclusivamente aquele espírito em particular e a mais nenhum outro, mesmo que use o mesmo nome. Quantas Denises temos no mundo? Muitas. Quantas Denises da Silva Sousa? Muitas também! Mas se eu pegar uma Denise da Silva Sousa e pedir pra ela contar sobre sua trajetória de vida, seu jeito de ser, ela passa a ser única entre as demais Denises da Silva Sousa que existem no mundo. Da mesma forma é um espírito que baixa sob o nome de Maria Conga e fala sobre a trajetória de vida que teve quando encarnada. Não podemos pegar esses acontecimentos e atribuir a mais nenhuma outra Maria Conga e a mais nenhum outro espírito no mundo. Pois cada ser é único e mantém sua individualidade, mesmo após sua passagem para o plano espiritual. 

                                                                               Ana Araújo 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013


Médiuns de Umbanda e a escolha de seu exercício!
Saber o porquê está e para que está


Um médium de Umbanda precisar ter bem definido em sua cabeça essas duas situações. Saber por que está ali, define bem o seu papel dentro do Terreiro. Saber para que, dá uma diretriz e foco que faz-se necessário para um desenvolvimento sério e centrado na realidade e não na “fantasia juvenil” que muitos tem ao colocar o uniforme de Umbanda; de que é bonito, é legal ter entidades poderosas e fortes que ajudarão as pessoas a resolver todos os seus problemas. Ser alguém requisitado e falado de que tem lindas e fantásticas entidades. Acreditem; muitos ingressam com tais expectativas. 
Sempre defendo e morrerei defendendo que ninguém é OBRIGADO a “cuidar disso ou daquilo”. De entrar para Religião A ou B. Se somos OBRIGADOS, é porque perdemos a opção de escolha, pois quem tem obrigação, não tem escolhas. É obrigado a cumprir tal tarefa, daí, foi-se o livre arbítrio para o mundo das utopias. Mas optar, escolher e abraçar uma religião como norte em nosso caminho como ser humano espiritual, não passa pelo caminho da imposição. Mas infelizmente é a realidade para muitos. Inúmeras pessoas estão em N religiões porque simplesmente foram coagidos, ludibriados, seduzidos por alguém de natureza espiritual não carnal que contou a triste estória de que se não entrasse para abraçar tal fé, sua vida iria pro ralo. De que a causa de todas as suas doenças eram por conta da negação que você mesmo fazia em aceitar tal religião para si. De que a fome, o desemprego que já dura meses, as portas fechadas, é simplesmente uma cobrança para que você entre no caminho que foi escolhido por você mesmo antes de nascer. 
ACREDITEM: a FELICIDADE e ABUNDANCIA não depende de estar na religião A ou B, de cuidar disso ou daquilo, mas de estarmos bem e em paz conosco. Nossa felicidade está dentro de nós e não fora de nós; em religiões, em doutrinas, em crenças ou dogmas religiosos, mas de buscarmos a crença em nós, na fé de que fomos capazes de encontrar dentro de nós, perdidas no meio das incertezas, medos, mágoas e solidão, a felicidade e plenitude. Qualquer que seja a religião nos oferecerá caminhos, meios, remédios paliativos, mas nenhuma delas irá viver ou caminhar por você, ou lhe dará a riqueza, solução de problemas. Elas são um suporte, um auxílio, uma porta para que NÓS mesmos, caminhando com nossas próprias pernas, méritos e deméritos, consigamos entrar nossos tesouros que cada um constrói pra si através de nossas escolhas, pensamentos e olhar pra vida. Elas podem ajudar com que encontremos respostas, nos reconciliemos conosco e encontremos o Deus que habita em cada um de nós. Mas não somos obrigados a seguir e crer nesta ou naquela para isso. Até porque, essa plenitude é o destino inexorável de todos nós. Somos criações divinas feitas para a felicidade, o progresso, o crescimento, a sabedoria, elevação divina e as riquezas. E não para a ignorância, trevas, miséria, infelicidades e desgostos. E todos nós estamos caminhando pra isso. Uns mais rápidos outros mais lentamente. Uns irão sem dar muitas voltas, enquanto outros, ainda persistem e vagar a vagar, passear e passear para, muitas vezes, voltar ao mesmo lugar e ver que nada construiu, além de ilusões, más escolhas e crenças em falsas promessas de riquezas e vida fácil. 
Mas e aqueles que são médiuns? São obrigados a desenvolver? Obrigados não é a palavra. Mas dependendo do nível de abertura mediúnica é aconselhável que esta pessoa busque amparo em conhecimentos mediúnicos para aprender a controlar e equilibrar o que está em desequilíbrio. E isso não está relativo em abraçar religião X ou Y. Mas de passar por tratamentos e processos que equalizará os canais mediúnicos e o orientará a condutas, posturas e pensamentos mais apropriados para um caminhar mais harmonioso entre você, o mundo, as pessoas e sua mediunidade. E ressaltando novamente que MEDIUNIDADE independe de religião, e, portanto, há várias formas de usá-la, manifestá-la e canalizá-la para o bem individual ou coletivo. 
Então voltando novamente em por que estamos? Por escolha sincera, madura e consciente de que é esta a filosofia, crença e religião que tocou sua alma para que ali você estivesse. Por afinidade com o que se comunga ali. Por amor e ligação espiritual. Mas não por curiosidade ou para solucionar os problemas de sua vida por promessas, nem tão pouco porque lhe disseram que era obrigado a estar. 
E para que estar? Para coletivamente buscar o crescimento e elevação da alma entre irmãos que comungam de similares ideais, crenças e filosofia. Para ajudar, somar e contribuir, numa troca salutar e válida para todos os envolvidos ali. Para estar dentro de um seio familiar espiritual e ali ser um meio para se encontrar, descobrir habilidades, descobrir deficiências e tentar melhorá-las. Achar talentos ocultos, olhar pra dentro de si e descobrir afinal, como é maravilhoso e divino, ser quem é e estar numa família que você escolheu em outras e nesta vida para caminharem juntos novamente. Já que não existem coincidências e nem acasos. Todos se unem com seus iguais e semelhantes. É uma lei de atração que não podemos fugir dela. Onde a sua alma se sentir em paz, sentir amada e protegida, ali é o seu lar. 

Por Ana Araújo - Este texto pertence ao acervo do Terreiro de Umbanda Vovó Catarina