As entidades de Umbanda e suas identidades
Passei alguns
anos sendo moderadora de comunidade sobre mediunidade e umbanda, e um assunto
que sempre surgia era sobre a identidade de entidade A ou B. Pessoas
perguntando sobre uma determinada entidade, querendo saber suas cores, roupas,
bebidas, formas de trabalho, personalidade e principalmente sua história de
vida.
Creio que esse
fato se dê pela ocorrência grande que há de livros e “lendas” espalhadas em
nosso meio sobre estórias de algumas entidades. Assim como há dos Orixás e
divindades africanas. Mas esclarecer alguns pontos, acho de extrema
importância. E um deles é a diferença entre mitos dos Orixás e lendas e
estórias que ouvidos sobre entidades.
Os mitos que
circulam em nosso meio – maioria sobre o panteão yoburá – são ocorrências a
serem estudadas no que entendemos como mitologia. São narrações que remetem a
construção cultural e social de um povo, assim como suas crenças, cosmogonia,
modo de vida e uma relação entre o homem e o divino. Sendo assim o mito é uma
forma ágrafa de repassar para gerações
futuras a essência sócio-cultural e espiritual de um determinado grupo étnico.
Através dos mitos, adurás (rezas) e orikis (invocações e encantamentos) é que
hoje se torna possível organizar um culto religioso as divindades africanistas;
base de todo o Candomblé dentro de cada raiz ancestral e no caso, étnica ao que
ele se refere, seja ela banta, nagô ou fon. Sei que muitos mitos que circulam
hoje foram “criados” contemporaneamente e não correspondem a uma origem
legítima da cultura africana. Mas as casas matrizes do culto as divindades, as
quais descendem todos os núcleos de candomblé, possuem em seu acervo as itans
(mitos) transcritas e estas possuem códigos numéricos que garantem a sua
legitimidade.
Já as estórias
contadas em livros, revistas e no boca a boca sobre as entidades, tem teor
completamente diferente e muitas delas não passam de lendas, invenções, fantasias
e divagações. Algumas podemos dizer que tem um caráter real. Porém estas, são
histórias de passagens encarnatórias de um espírito que “baixa” sob o nome de
Tranca Rua, contou sobre sua individualidade espiritual. Ela não serve para
outros Trancas Rua, porque na verdade; Tranca rua diz respeito a um agrupamento
imenso de espíritos que se apresentam nos terreiros afro-ameríndios espalhados
pelo Brasil, sob mesmo nome. Então podemos entender que Pai Joaquim, Caboclo
Tupinambá, Caboclo Treme Terra, Cigana Esmeralda, Maria Mulambo, e todos os
nomes representam uma COLETIVIDADE e não uma individualidade. Logo, se um Pai
Joaquim chega num terreiro e quer relatar sua história de vida, isso diz
respeito exclusivamente aquele espírito em particular e a mais nenhum outro,
mesmo que use o mesmo nome. Quantas Denises temos no mundo? Muitas. Quantas
Denises da Silva Sousa? Muitas também! Mas se eu pegar uma Denise da Silva
Sousa e pedir pra ela contar sobre sua trajetória de vida, seu jeito de ser,
ela passa a ser única entre as demais Denises da Silva Sousa que existem no
mundo. Da mesma forma é um espírito que baixa sob o nome de Maria Conga e fala
sobre a trajetória de vida que teve quando encarnada. Não podemos pegar esses acontecimentos
e atribuir a mais nenhuma outra Maria Conga e a mais nenhum outro espírito no
mundo. Pois cada ser é único e mantém sua individualidade, mesmo após sua
passagem para o plano espiritual.
Ana Araújo
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