Terreiro de Umbanda Vovó Catarina

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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013


As entidades de Umbanda e suas identidades


Passei alguns anos sendo moderadora de comunidade sobre mediunidade e umbanda, e um assunto que sempre surgia era sobre a identidade de entidade A ou B. Pessoas perguntando sobre uma determinada entidade, querendo saber suas cores, roupas, bebidas, formas de trabalho, personalidade e principalmente sua história de vida.
Creio que esse fato se dê pela ocorrência grande que há de livros e “lendas” espalhadas em nosso meio sobre estórias de algumas entidades. Assim como há dos Orixás e divindades africanas. Mas esclarecer alguns pontos, acho de extrema importância. E um deles é a diferença entre mitos dos Orixás e lendas e estórias que ouvidos sobre entidades.
Os mitos que circulam em nosso meio – maioria sobre o panteão yoburá – são ocorrências a serem estudadas no que entendemos como mitologia. São narrações que remetem a construção cultural e social de um povo, assim como suas crenças, cosmogonia, modo de vida e uma relação entre o homem e o divino. Sendo assim o mito é uma forma  ágrafa de repassar para gerações futuras a essência sócio-cultural e espiritual de um determinado grupo étnico. Através dos mitos, adurás (rezas) e orikis (invocações e encantamentos) é que hoje se torna possível organizar um culto religioso as divindades africanistas; base de todo o Candomblé dentro de cada raiz ancestral e no caso, étnica ao que ele se refere, seja ela banta, nagô ou fon. Sei que muitos mitos que circulam hoje foram “criados” contemporaneamente e não correspondem a uma origem legítima da cultura africana. Mas as casas matrizes do culto as divindades, as quais descendem todos os núcleos de candomblé, possuem em seu acervo as itans (mitos) transcritas e estas possuem códigos numéricos que garantem a sua legitimidade.
Já as estórias contadas em livros, revistas e no boca a boca sobre as entidades, tem teor completamente diferente e muitas delas não passam de lendas, invenções, fantasias e divagações. Algumas podemos dizer que tem um caráter real. Porém estas, são histórias de passagens encarnatórias de um espírito que “baixa” sob o nome de Tranca Rua, contou sobre sua individualidade espiritual. Ela não serve para outros Trancas Rua, porque na verdade; Tranca rua diz respeito a um agrupamento imenso de espíritos que se apresentam nos terreiros afro-ameríndios espalhados pelo Brasil, sob mesmo nome. Então podemos entender que Pai Joaquim, Caboclo Tupinambá, Caboclo Treme Terra, Cigana Esmeralda, Maria Mulambo, e todos os nomes representam uma COLETIVIDADE e não uma individualidade. Logo, se um Pai Joaquim chega num terreiro e quer relatar sua história de vida, isso diz respeito exclusivamente aquele espírito em particular e a mais nenhum outro, mesmo que use o mesmo nome. Quantas Denises temos no mundo? Muitas. Quantas Denises da Silva Sousa? Muitas também! Mas se eu pegar uma Denise da Silva Sousa e pedir pra ela contar sobre sua trajetória de vida, seu jeito de ser, ela passa a ser única entre as demais Denises da Silva Sousa que existem no mundo. Da mesma forma é um espírito que baixa sob o nome de Maria Conga e fala sobre a trajetória de vida que teve quando encarnada. Não podemos pegar esses acontecimentos e atribuir a mais nenhuma outra Maria Conga e a mais nenhum outro espírito no mundo. Pois cada ser é único e mantém sua individualidade, mesmo após sua passagem para o plano espiritual. 

                                                                               Ana Araújo 

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