Palavra de origem africana (quimbundo), que quer dizer
antipatia, mal estar, aborrecimento, segundo o dicionário Michaelis. A palavra
também que é muito conhecida e faz parte da linguagem do povo de axé.
Acredito que haja uma linha muito tênue sobre esse tema
entre a Umbanda e o Candomblé, porque assim como o uso do branco nas sextas feiras, é
oriundo de uma organização primária do candomblé, as quizilas também. Mas
diferente do uso do branco e outros preceitos para a sexta feira, dia de Oxalá,
as quizilas são oriundas de um conhecimento da própria cultura africana e não
foi instaurada pelo grupo organizador do candomblé, pois este faz parte do
culto a Orixá desde sua origem africana. O povo africano também respeitava as
quizilas do Orixá que prestava culto. O que houve foi apenas uma adaptação, já que muitas folhas, frutos, sementes, etc não existiam na África.
E muita casa com fortes influencias africanista também
adotaram e receberam também o entendimento, embora muitas vezes distorcidos e
meramente simbólicos sem muita compreensão sobre o porquê dos interditos, mas
adotam também e repassam aos seus filhos de fé. Certos ou errados? Não entrarei
nesse mérito de forma alguma, pois não me compete apontar o dedo a casa alheia
e dizer que tal preceito é certo ou errado.
As quizilas dizem respeito ao que pode ou não um omorixá
(quem cultua Orixá), comer, vestir, formas de comportamento e elementos
naturais que são compatíveis ou não com ele. O que pode usar ou não. E isso não
é uma questão de supertição, mas de axé. Cada pessoa tem seu campo único de
energias orgânicas e inorgânicas, tem sua frequência espiritual e sua porção
natural divina dentro de si. Uma vez despertado esse axé primordial dentro de
nós, através do ritual de iniciação, a energia Orixá que somos, ficam em
evidencia e “a flor da pele”. E um axé que foi despertado e que estará conosco
de forma mais forte e não adormecida. Somos seres naturais e portanto
dependemos da natureza e do que ela provê para sobrevivermos. Porém também
somos seres naturais e portanto, existem alimentos, plantas e manipulações
naturais e humanas que são incompatíveis com nossa energia natural divina. E o
que essa incompatibilidade nos causa seja emocionalmente, fisicamente, ou
mentalmente se chama quizila.
Numa linguagem bem simplista e simbólica é costume dizer “não
coma isso que seu santo não gosta, não beba isso que vai inquizilar seu santo”.
Na verdade não vamos deixar ninguém bravo e revoltado conosco, mas trata-se de
estarmos consumindo algo que não é bom para nosso corpo físico e espiritual ,
pela vibração natural do elemento/alimento que é incompatível com nossa própria
energia. Já pararam pra pensar que
muitos alimentos nos dão mal estar? E pra outras pessoas não? Que algumas
pessoas respondem melhor a certos tipos de remédios do que outras, de pessoas
que se sentem bem bebendo algum chá ou mesmo banho e outras não? Porque cada
ser humano é único e tem seu próprio organismo espiritual que melhor se adéqua
a este ou aquele elemento. E as quizilas são justamente o que nos trazem
malefícios e não é uma boa pedida pra nosso equilíbrio e bem estar.
Porém as pessoas que levam a coisa ao pé da letra entendem
de forma muito humanizada, de que é alguém, nosso Orixá que não gosta de tal
coisa e por isso proíbe seus filhos de consumirem. Mas vamos enxergar abrir
nossa mente pra ver as coisas mais além do que os simbolismos e alegorias. Da
mesma forma é a expressão “ o que meu Orixá come”. Orixá não come, nós é quem
comemos, compartilhamos á mesa de elementos naturais que sintetizam e são a
expressão do Orixá individualizado na natureza; nas folhas, frutos, sementes, grãos,
etc. E o homem aprendeu a manipular esse axé em forma de alimento que ingere
como remédio, combustível para manter-se vivo, saudável e com vigor em sua vida
corpórea. E nos alimentamos todos os dias de axé natural e sem eles não
sobrevivemos.
Falando no âmbito da Umbanda, não é via de regra que se
respeitem as quizilas dos Orixás, até porque é preciso se entender o Orixá e
ter o conhecimento dos elementos incompatíveis ao seu axé natural. Estudando o
Orixá, seus mitos que alegoricamente nos trouxe o que é cada Orixá, entendemos
sua vibração, onde ele se manifesta na natureza, o que é afim a essa emanação,
etc. E esse aprofundamento nos mistérios e fundamentos do Orixá não é o bojo que
norteia a Umbanda, pois não somos o Culto do Orixá, mas sim, o norte de nossa crença
é justamente as entidades. Embora nós prestamos culto aos Orixás, não iniciamos
Omorixás, Não é o objetivo despertar através da iniciação e rituais o Orixá porção
divina dos adeptos. Mas não deixamos de louvar e cultuar dentro de fundamentos
próprios as emanações divinas; Orixás, porém de forma, rituais e liturgia
diferente do culto ao Orixá, o Candomblé de Orixá. Somos outra religião, uma
religião independente e não precisamos copiar, implantar nem importar rituais
para nossas casas de Umbanda, até porque os rituais do candomblé que envolve
iniciação, não é apenas uma questão de ir e fazer. É preciso ter assentos que
somente é pertinente a uma casa de nação, organização física apropriada, não
misturar dentro de mesmo âmbito os assentos dos Orixás e entidades, etc. Devemos
reconhecer que existem dentro da Umbanda muitas casas deverás influenciadas por
práticas de nação, e estes, orientam seus filhos sobre as quizilas de seus pais
de cabeça. Mas percebo que é algo mais superficial, sem se aprofundar muito
nessa questão. Interditam algumas coisas básicas e mais evidentes e não
estendem a uma profundidade. O que em nada desabona a casa. Afinal somos
Umbanda e não Candomblé. E acredito sempre que devemos respeitar o entendimento
alheio com relação à forma que pratica e repassa o que aprendeu.
Ana Araujo
Texto pertence ao acervo do Terreiro de Umbanda Vovó
Catarina e está protegido seus direitos autorais.
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