Temas
sempre bem vindos ao se falar sobre manifestações mediúnicas na Umbanda. O
temor, creio que da maioria dos médiuns é justamente o fato de “tudo” ser fruto
de sua cabeça e imaginação e não uma manifestação genuína de uma entidade.
Claro, falo isso dos médiuns sérios e comprometidos com um exercício fiel e
honesto de suas faculdades e não aos vaidosos e mal intencionados que tem aos
montes por aí. Geralmente estes têm em mente duas coisas; APARECER, OU, GANHAR
A VIDA À CUSTO DA FÉ ALHEIA.
A
questão do animismo é um assunto muito vasto, onde podemos ir por vários
caminhos, mas a princípio trataremos de sua forma mais simples e mais comum nos
terreiros. Guardem este texto, pois trarei mais para frente, um teor mais
aprofundado de animismo, e esta matéria, será de grande ajuda para entender o
aspecto mais profundo do assunto central.
O que é animismo?
Em
seu aspecto primário, é a manifestação da psique do médium em vez de sua
entidade. É quando ele passa a frente da entidade e fala e age como se fosse a
entidade. Porém esse processo é inconsciente e o médium não sabe que as
palavras ou as ações são dele mesmo e não de sua entidade.
O que é mistificação?
Diferente
do animismo, a mistificação é a ação consciente do médium, que sabe não estar
sob influência da entidade, mas age como se estivesse. É o clássico
charlatanismo. Pra esses médiuns picaretas eu receito uma dose de cacete baiano
pela manhã e outro dose de surra de espada de São Jorge a noite depois da
refeição pra ir pra cama com o rabo quente. Talvez a coisa que mais abomino
dentro dos segmentos mediúnicos, seja o abuso da fé alheia. Enganar, mentir e
usar o nome de uma entidade pra ludibriar os outros, manipular a fim de ganhar
algo em troca, seja atenção, respeito, medo, imponência ou dinheiro, é algo vil
e sujo que a punição divina, tarde, mas não falha pra esse tipo de gente.
Muitas pessoas confundem o animismo
com a mistificação, mas são coisas distintas.
Incorporação x Psicofonia
Já a incorporação é o processo mediúnico onde a
entidade tem domínio do médium e age em seus centros nervosos e motores e tem
uma liberdade de ação e “voz” que ultrapassa a vontade e mental do médium.
Porém o termo incorporação é usado
pra qualquer tipo de mediunidade onde a entidade “fale” através de um médium.
Mas existem diferenças nesses processos. Foram criador vários nomes como
mediunidade intuitiva, incorporação por intuição, incorporação consciente, etc.
Mas para simplificar eu costumo dividir em 2 tipos apenas: a incorporação e a
psicofonia. Na psicofonia não há o domínio físico do médium e a manifestação da
entidade se dá por um processo mental somente. Esse tipo de mediunismo é o
recorrente em casas espíritas, pois o médium precisar estar a frente sempre do
espírito comunicante, pois este na maioria das vezes, é de natureza negativa,
perturbada e carente de ajuda e orientação. Logo ele não pode ocupar o
“comando” de centros físico do médium. Há a proximidade do espírito e o médium
capta de seu psicossoma sua energia, natureza e como um diálogo de mente pra
mente, o médium transmite o que o espírito está falando para ele.
Já nos terreiros de Umbanda a
natureza dos espíritos comunicantes é outra, e estes agem em nosso corpo
através das irradiações para nosso equilíbrio e sintonia mediúnica e espiritual
e nosso corpo reage com sensações e movimentos involuntários, já que a entidade
vai tomando conta de nossa matéria. Esse acoplamento por assim dizer, não
ocorre de um dia para o outro. É claro que o tempo é relativo de pessoa para
pessoa, mas se a capacidade existe no “aparelho”, as entidades irão trabalha-la
para que esteja tudo em harmonia para que a entidade possa de fato incorporar
de fato.
Porém nem todos os médiuns que estão
na Umbanda como médiuns de incorporação, fornece esse tipo de mediunidade, não
tendo abertura em sua organização em seu corpo astral e centros de força para
estabelecer a incorporação propriamente dita, onde a entidade tem controle e
domínio do médium. Ficando muito próximo das manifestações das casas espíritas,
com o diferencial grande, onde o médium na Umbanda também pode sentir sensações
em seu corpo, perder um pouco da noção de espaço e tempo e confundir com uma
incorporação clássica, mas a entidade não tem domínio corporal e a comunicação
se dá mentalmente somente sem que haja o acoplamento entre ambos. É como um
processo de telepatia; a entidade transmite as mensagens ao mental do médium, e
este externa as mensagens. Mas por que é
tão parecido com a incorporação? Porque as entidades também agem sobre o corpo
espiritual do médium para promover descargas, harmonizações e equilíbrios em
seus centros de força (chackras), como também, todo médium seja de incorporação
ou psicofônico tem a capacidade de captar a energia dos espíritos que estejam
muito próximos de si , seja suas
entidades ou do médium do lado. E com o passar do tempo, essa percepção é
ampliada e aprimorada e ele consegue distinguir seus guias e de seus irmãos de
corrente. Consegue saber se é uma entidade masculina ou feminidade, de que
linha é, etc. Como também, ele consegue “ler “ a natureza daquele espírito e
pode dessa leitura, imaginar como é tal entidade; se séria, sisuda, ou alegre, risonha,
brincalhona, direta, ou é cheia de ternura pra falar, etc. Mesmo que ele não
consiga ver a entidade, pela proximidade nós conseguimos perceber essas
características que emana naturalmente dos espíritos. E dessa leitura, é que
nós formamos a entidade em nosso mental e exteriorizamos comportamentos e
formas de falar, trejeitos e posturas. Isso para os psicofônicos. Em ambos os
casos, há o transe provocado pela irradiação da entidade e pela força motriz do
todo que provoca um estado hipnótico no médium, o conduzindo ao transe, e do
transe a manifestação propriamente dita de sua faculdade mediúnica.
O grande problema do médium
psicofônico, ou seja, aquele onde a entidade atua somente através do mental, e
do que a entidade diz a ele, é a capacidade DO DISCERNIMENTO, pois nem sempre
as mensagens que a entidade transmite, é o que ele entende para repassar. Outro
problema é de ordem íntima e psíquica. Nas religiões afro-brasileiras as
entidades transmitem e formamos arquétipos de grupos raciais e sociais. E
muitos desses tipos “humanos” mexem muito com a vaidade, fantasias, e desejos
reprimidos de nós mesmos. Quando um indivíduo está em transe, seu psiquismo e
parte espiritual inconsciente ficam muito mais expostos também e aflorado,
somando isso a ideia que fazemos de tal entidade e da leitura que fazemos dela,
podemos exteriorizar partes nossas, do nosso inconsciente e traços de
personalidade reprimida que se identifica com tal “arquétipo”, digamos assim de
X entidade. Esse processo pode até fazer parte de uma catarse emocional e
psicológica, salutar para o médium, de uma série de repressões em seu íntimo
que o transe libera provocando um bem estar íntimo e profundo, paz consigo
mesmo, que ele não sabe exatamente o porquê. Porém esse tipo de eventos somente
pode ocorrer no início de um desenvolvimento e não existir dentro da vida
mediúnica do médium durante todo o seu tempo de labor. É justamente por isso
tão importante o desenvolvimento, e não liberar os médiuns em desenvolvimento
para consultas sem um aval do guia chefe da casa, ou da análise do dirigente.
Mesmo que a entidade fala, dance e tenha desenvoltura e APARENTE firmeza,
somente com uma avaliação do conjunto das manifestações daquele médium, e que
ele poderá estar apto pra atender o público. Mas muitos médiuns são recebem
esse tipo de avaliação e são postos logo para o atendimento e consultas e
muitas vezes até, para satisfazer a ansiedade e vontade do médium de ir logo
pras consultas. Ai mora o grande perigo! Pois os médiuns psicofônicos precisam
e exaustivo treinamento e desenvolvimento para garantir a manifestação do
pensar da própria entidade e não somada a suas impressões, julgamentos e
ideias. Mas a realidade que percebemos nos terreiros, é um “desleixo” de um bom e capacitado desenvolvimento
mediúnico, muitas vezes mal feito e mal conduzido, e dá no que dá.... shows de
animismos onde todos são enganados; médiuns e assistentes. Há misturas entre
entidade e o próprio médium e este acaba por se atrapalhar em seus próprios
pensamentos mesclados da entidade e não sabe o que é seu ou não. O vaidoso e
auto suficiente não questiona, pois se acha “o cara” e não pára pra refletir
suas ações estando sob a influencia das entidades. Creditam cada palavra e cada
ação nelas, ficam fascinados e não ouvem muitas vezes, seu dirigente e as
entidades responsáveis por ele, pois não admitem que podem estar errando e
precisando de mais desenvolvimento e conselhos dos mais velhos. E mesmo quando
a entidade se porta com rebeldia, falta de educação e sem a postura digna de
uma entidade de fato, ele dá desculpas e alega que é a casa que não é do agrado
da entidade. Será mesmo? Cuidado! Muitas vezes é isso que provoca médiuns a
abandonarem casas sérias e buscar a facilidade e casas pouco comprometidas com
um sério e comprometido desenvolvimento e manifestações de suas entidades. É o
“coloca a roupa e vai pra roda girar”. E daqui a pouco tá atendendo com as
entidades e pensa; “tá vendo! Era aquela
casa que não reconhecia meus ‘dons’ mediúnicos”. Ledo engano!
Já para os médiuns de incorporação –
cada vez mais raros hoje em dia – este problema não é tão recorrente, pois ele
oferece a entidade maior domínio e pode assim, agir mais livremente por sua
conta sem precisar que o médium seja seu intérprete para o plano exterior.
Lembrando que a entidade pode “dosar” a intensidade desse domínio e o faz
sempre. Ela pode ir de um nível mais elevado a um nível mais brando, ou se for
do seu querer, agir somente através da transmissão de pensamento, como na psicofonia. Já que o controle total do médium demanda
muito desgaste par a o médium, e muitas vezes em certos trabalhos, momentos de
uma gira não há essa necessidade e as entidades usam de sabedoria e mestria
para não desgastar desnecessariamente seu “cavalo”. Vale ressaltar, talvez em
negrito, que a consciência (o lembrar e ver tudo por parte do médium estando
com a entidade) não está relativo a domínio ou não da entidade. Embora em
estados mais profundos de incorporação, pode não haver consciência mediúnica ou
parcial, isso não é via de regra. Muitos podem estar sob o domínio da entidade
e ver tudo a sua volta, como se estivesse assistindo um filme.
Uma
dica: deixe ser levado literalmente pela entidade. Não pense, não questione,
jogue a ansiedade e observação de lado e deixe ser levado nos primeiros sinais
de irradiação da entidade. Livre-se do medo e vá! Estando com a entidade, não
promova diálogos em sua mente, pois é ai que tudo pode se confundir. A voz da
entidade é sempre a primeira, é o ímpeto, a voz rápida e fala de primeira. Não
fique buscando respostas e ações das entidades para as pessoas. Muitas vezes,
ela não tem nada pra falar e só veio trabalhar energeticamente pra você ou pro
ambiente, pro grupo, ou pra alguém. Não se envolva e deixa-a livre para falar
ou não. Muitos médiuns na ânsia de se afirmar como médiuns firmes, querem que
suas entidades revelem segredos, digam sobre a vida, o passado, presente e
futuro das pessoas, e isso é um dos fatores que mais atrapalha. A vaidade de
ser um médium bem conceituado, que tem as entidade mais firme, que ajudam as
pessoas, que promovem curas, revelações, estripulias de desafiam as leis da
física, é o abismo do médium. É onde ele cai e cai feio. Fica a dica e o
alerta.
Em breve trarei mais sobre esse
tema. Espero ter ajudado os iniciantes em desenvolvimento e não confundido
mais! Axé!
Texto
pertence ao acervo do Terreiro de Umbanda, Vovó Catarina
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